Olá, pessoal!
Nesta semana, trago uma coluna especial que escrevi para a antiga revista Coverbaixo, na qual analiso as principais características das linhas de baixo do Rock Progressivo.
Este artigo faz parte da minha coleção, composta por diversos estudos sobre contrabaixo, teoria musical e análise musical.
Para conferir outros trabalhos e artigos que publiquei, acesse o link:
http://www.femtavares.com.br/p/midiaimpressa-fernandotavares-sempre.html
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"Lugar de Baixo é na Cozinha"
A principal característica da cozinha do Rock Progressivo é a precisão. Bateria e contrabaixo atuam em perfeita sincronia rítmica, oferecendo suporte sólido às frases elaboradas por guitarras e teclados. Nesse estilo, são comuns as mudanças de fórmula de compasso e a utilização de frases rítmicas complexas nas levadas.
Embora existam várias bandas influentes no gênero, as características da seção rítmica variam significativamente de acordo com os músicos ou a banda em questão.
No contrabaixo, o baixista frequentemente desenvolve linhas que contrapõem a melodia principal ou estabelece uma linha fixa baseada na harmonia, delegando a construção harmônica aos outros instrumentos. Para criar essas linhas, os baixistas exploram uma ampla variedade de escalas, com destaque para a escala maior, a menor natural, a menor harmônica e a pentatônica. Também é comum o uso de acordes, arpejos e outros elementos técnicos, habilmente empregados pelos mestres deste instrumento no estilo.
Já os bateristas integram a parte rítmica às frases do contrabaixo ou à melodia da música, utilizando linhas básicas como fundamento e introduzindo variações criativas. É importante destacar que, ao trabalhar com compassos alternados, os bateristas no Rock Progressivo geralmente seguem a estrutura temática da música, evitando "quebras" rítmicas aleatórias, como ocorre em outros gêneros.
O Rock Progressivo é amplamente reconhecido como um dos estilos mais desafiadores, tanto para tocar quanto para compor ou compreender. Ele exige dos músicos um alto nível de dedicação e habilidade, tanto na parte harmônica quanto na rítmica.
Recomendo o estudo de materiais específicos sobre compassos alternados, além de dedicar tempo à audição das bandas que consolidaram este gênero como um dos mais fascinantes na música contemporânea.
Long Distance Runaround
O trecho transcrito corresponde à introdução da música, que retorna mais tarde no interlúdio. O tema inicial é executado pela guitarra e pelo teclado, enquanto o contrabaixo e a bateria estabelecem a base rítmica com uma célula contínua de colcheias. Embora neste trecho não ocorram mudanças na fórmula de compasso, a acentuação rítmica é feita sempre no contratempo do compasso anterior.
Outro aspecto notável é a forma musical deste trecho, que se desenvolve em nove compassos, algo incomum, já que partes musicais são frequentemente estruturadas em múltiplos de quatro. Essa variação deve-se aos três compassos finais, nos quais a “cozinha” do Yes utiliza uma de suas características marcantes: notas pontuadas (neste caso, semínimas). Esse recurso cria a sensação de um rallentando no final, conhecido tecnicamente como hemíola, e é executado com extrema precisão por Squire e Bruford.
A linha de baixo é construída sobre a escala de Dó Mixolídio, destacando-se o Fá sustenido, que funciona como uma blue note. No final do trecho, as notas fundamentais dos acordes correspondentes são utilizadas para reforçar a harmonia. Por sua vez, a linha de bateria emprega semínimas na condução, com caixas e bumbos acentuando os contratempos. Essa abordagem, frequentemente adotada por Bill Bruford, gera uma sensação intrigante de que ele está tocando “fora do tempo”, adicionando complexidade e riqueza rítmica à peça.
The Spirit of Radio
O trecho transcrito corresponde à introdução da música The Spirit of Radio, presente no álbum Permanent Waves de 1980. Nesta faixa, os músicos criaram uma linha rica em frases desafiadoras e com o uso de várias fórmulas de compasso. Particularmente, a parte rítmica deste trecho merece atenção especial, pois é, na minha opinião, a mais difícil de compreender. Ela emprega semicolcheias e tercinas de semicolcheia, equivalentes a seis notas dentro de um tempo, exigindo precisão técnica.
O baixista Geddy Lee utiliza a escala de Ré maior para construir sua linha. É fundamental prestar atenção à duração das notas: elas devem ser executadas com o som cortado de acordo com o valor indicado, garantindo clareza e definição.
Já o baterista Neil Peart explora quase todas as peças da bateria, distribuindo as notas entre elas para criar frases complexas. No trecho analisado, ele não apresenta uma levada fixa, mas sim uma abordagem mais solta, destacando sua criatividade rítmica.
Recomendo estudar este trecho com muita paciência, pois sua execução é extremamente desafiadora. Trabalhe para limpar as notas e toque preferencialmente junto com um baterista. Quando alcançar a velocidade original da música, certifique-se de que as notas estejam limpas e precisas, evitando atrasos ou adiantamentos. Além disso, mantenha a pegada firme, pois a precisão é a principal característica deste estilo.