quinta-feira, 23 de julho de 2020

Artigos & Resenhas - Sob os Olhos de Eva / Kaoll - Por Luiz Domingues


Olá pessoal! 

Estamos de volta com mais uma coluna Artigos e Resenhas aqui no nosso site. Dessa vez o sensacional escritor Luiz Domingues nos fala sobre o álbum da banda "Kaoll" chamado Sob os Olhos de Eva. Luiz novamente nos presenteia com a apresentação de um sensacional álbum de rock, vale a pena conferir.

A matéria original pode ser encontrada neste link.

https://luiz-domingues.blogspot.com/2018/06/cd-sob-os-olhos-de-eva-kaoll-por-luiz.html

Lembrando que o nosso amigo possui três blogs diferentes que estão nos links abaixo.
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/
http://luizdomingues3.blogspot.com.br/

Um breve release do Luiz feito pelo próprio:

Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste Blog particular, reúno minha produção geral e divulgo minhas atividades musicais. Como músico, iniciei minha carreira em 1976, tendo tocado em diversas bandas. Atualmente, estou atuando com Os Kurandeiros.

Sem mais, vamos ao texto do Luiz:

CD Sob os Olhos de Eva / Kaoll - Por Luiz Domingues


Fico abismado quando observo manifestações oriundas da parte de diversas pessoas nas redes sociais da internet, a lastimar o estado degradante em que encontra-se o panorama da música e da arte em geral nesta atualidade de fim dos anos dez, do século XXI. A reclamação procede em linhas gerais, porém, existe um aspecto que também é evidente, mas as mesmas pessoas que reclamam o tempo todo, não percebem ou não querem perceber, que tal panorama desfavorável não é motivado pela escassez de artistas expressivos e que tenham algo relevante a acrescentar para o espectro cultural da sociedade. Não é o caso aqui para estender tal reflexão, mas para resumir, a degradação não passa pela falta de artistas com qualidade e desejo em dar o seu recado bem embasado, mas simplesmente por haver um vergonhoso monopólio na difusão cultural mainstream a proibi-los, veladamente, ao livre acesso e assim atingir o grande público. Portanto, artistas incríveis, temos em profusão, todavia, simplesmente não estão nos programas popularescos da TV; não são convidados a ceder suas obras para alimentar as trilhas das novelas e sua música não toca nas emissoras de rádio, oficiais. Apenas isso...

É o caso do Kaoll, uma banda que já tem uma história significativa na cena da música instrumental, com discografia numerosa e além da sua qualidade técnica e artística, está sempre imbuída por uma sólida base cultural. “Sob os Olhos de Eva”, é o novo álbum do Kaoll e traz em seu bojo um advento muito rico ao basear-se na obra de um livro e a seguir a modernidade tecnológica, oferta ao público, um aplicativo para ser automaticamente unido a um arsenal de ilustrações e vídeos análogos. Sobre o livro, trata-se da obra homônima, do pensador, Renato Shimmi. Filósofo, com graduação também em Direito e com diversas especializações, Shimmi é um pesquisador sério, com renome, e sua fama justifica-se plenamente, pelo teor de sua obra. Neste livro, Renato Shimmi apresenta uma série de ensaios a analisar a questão da unidade que transcende a questão dual enfocada no mito de Adão & Eva, proveniente do Genesis bíblico. Através de tal prospecção, com profundidade, joga luzes sobre todo o desenvolvimento da humanidade ao longo dos séculos, através da construção e quebra eventual dos paradigmas estabelecidos. Não li o livro, ainda, mas através do release da obra, chamou-me a atenção uma colocação forte de seu autor a dar ciência de que o caráter libertário em desobedecer as ordens impostas arbitrariamente, foi sufocado por séculos, em uma demonstração clara da ostentação totalitária, portanto o que foi institucionalizado como paradigma irrefutável, pode e na verdade, deve ser contestado, sem dúvida alguma.


Portanto, é sob essa sólida argumentação filosófica proposta pelo pensador, Renato Shimmi, que o Kaoll concebeu o conjunto de músicas de sua mais recente obra e somente por essa iniciativa, este álbum já demonstra ter um lastro enorme. Contudo, vai além, pois a parte musical é riquíssima e nada surpreendente para quem acompanha a trajetória dessa banda e a qualidade inquestionável de seus componentes, individualmente a destacar-se.
O trabalho do Kaoll é fortemente influenciado por uma gama de vertentes musicais muito valiosas, mas que tem um componente em comum, o apreço (e a coragem, devo salientar), em fazer uso do experimentalismo, na contramão das regras ditadas pelos produtores musicais que atendem os interesses em prol da música pop comercial de alto consumo e descartável. Dentre as suas ótimas influências, nota-se a presença de vertentes do Rock Progressivo setentista, a destacar-se a corrente do Krautrock, a maravilhosa escola alemã dos anos setenta, que notabilizou-se na história do Rock, justamente por abrigar uma gama de artistas que usaram o experimentalismo, fortemente em suas respectivas obras. Soma-se também nesse bojo, o Jazz, sobre algumas linhagens, o Jazz-Rock  predomina, mas há gotas interessantes de outras linhas, como o Free-Jazz e o Fusion, certamente. A música erudita, sob o aspecto de suas camadas mais recônditas, marcadas pelo atonalismo; dodecafonismo e outras correntes mais radicais dentro do gênero; a música Folk, no sentido amplo da designação etc.
Na prática, o som do Kaoll é um instrumental muito versátil, a mesclar a extrema docilidade da flauta aos solos de guitarra mais proeminentes, com pegada Rocker. Transita entre longos temas, como uma Jam Band, mas tem seus momentos mais concisos, com arranjo fechado e permeado por convenções bem arranjadas. Apresenta um arsenal de melodias, muito bom e a parte rítmica da banda é igualmente excelente, com a presença de várias batidas diferentes, a usar bem as variações nas fórmulas de compasso e claro, com toda essa categoria e ótimas influências apresentadas pelos seus membros, busca os melhores timbres, em perfeita sincronia com a preocupação em ter seu áudio a altura de seu quilate artístico. O álbum, “Sob os Olhos de Eva”, apresenta seis faixas. A primeira, a abrir a obra, é homônima.

Em “Sob os Olhares de Eva”, a banda apresenta uma introdução bastante instigante, a lembrar-me o trabalho de bandas progressivas bem do final dos anos sessenta, que faziam aquela transição entre a psicodelia e o iniciante progressivo, propriamente dito. Alguns historiadores rotulam essa corrente intermediária como “Space Rock”, a denotar uma aproximação da música com a expansão espacial da humanidade, então sob alta voga. Logo entra uma parte intermediária onde com muita docilidade, a flauta leva a banda para um passeio muito bonito. Mais um pouco e o Folk que surge é delicioso. Sob uma percussão bem colocada, a banda faz uma base amena, muito bem amalgamada pelo slide de guitarra. A parte final é marcada por um looping extremamente bonito, com maior peso e a guitarra é belíssima em sua linha de frente. Na sincronia com o livro, tal tema exprime a visão de Eva ante a oferta da serpente, sua sede pelo conhecimento, que pelo paradigma religioso imposto-nos, é tido como algo maléfico e arrogante, por afrontar uma ordem superior, mas a proposta é a reflexão em torno do contrário, ou seja, não seria a arrogância do totalitarismo que impede a expansão do homem, portanto, o verdadeiro "mal" a ser combatido ?

O próximo tema é denominado : “O Exílio da Serpente”. Tudo soa belo nessa faixa. O trabalho magnífico das cordas, da flauta e a cozinha que soa sob uma inspiração fantástica. Teclados pontuam com muita propriedade, a trazer timbres ótimos dos velhos sintetizadores Moog, Arp Strings e o tradicional piano vem muito bem no bojo. Lembrou-me o Jethro Tull em seus melhores momentos, com aquela capacidade ímpar que a turma de Anderson; Barre & Cia. possuía em criar arranjos com polimelodias, todas muito bem encaixadas e que obrigam o ouvinte a escutar a faixa várias vezes, para poder a cada audição, prestar atenção em um detalhe específico. A passagem quase no limiar do Hard-Rock, é ótima no trecho final, com um solo de guitarra para arrepiar.

“Kopernick” vem a seguir, e mais uma vez o trabalho das cordas é muito bonito. Tem um certo quê de música flamenca, com batidas de violão a buscar tal acento rítmico característico e mais uma vez com um belo solo de guitarra para realçar-se. Trata-se da referência à Copérnico, e a explicação que vem das estrelas a confrontar os modelos dogmáticos impostos pela Igreja.

“O Julgamento e Morte de Giordano Bruno” vai direto no âmago do problema. Creio ser desnecessário maiores explicações sobre a figura histórica descrita no título da música e o que representou como símbolo de resistência à opressão, em sua época. Em termos musicais, esse tema oferece-nos um riff deveras interessante, com a banda a manter-se nele como base primordial e deixar assim a flauta a flutuar, literalmente. Apresenta peso e leveza em perfeita unidade, eu diria. Solo final com contundência na guitarra a buscar modulação de tom e novo passeio da flauta ao final, para encerrar, e que soa, magnífico.

“A Rua contra os Reis” denota a tomada de consciência das massas, ao ir às ruas e protestar contra a opressão, com a finalidade em exigir mudanças. É muito bonita a melodia proposta pelo slide guitar e a base segue a quebrar ritmicamente, muito bem.

O último tema, “Dharma em Chamas”, busca exprimir o sentimento individual da experiência rumo à unidade final, o romper com a dualidade. Adão & Eva não devem obedecer, tampouco ser punidos, e assim fundem-se em um único ser, absoluto e transcendente. E sob tal conceito metafísico, o tema musical apresenta-se com uma deliciosa explosão sonora, a trazer fortes doses de influência latinoamericana, com percussão muito forte, permeada por um forte molho caribenho. O tema é muito vibrante a lembrar bandas freaks com tal proposta dentro do Rock norteamericano dos anos sessenta, onde a citação ao Santana é a mais óbvia, pela sua maior projeção nesse campo. Entretanto, advém uma parte mais amena, com a flauta a comandar a boa melodia. E uma terceira parte, mais uma vez sob experimentalismo, fecha a música e o álbum, exatamente como ele iniciara-se. Ou seja, a serpente contorce-se a formar o “oito infinito”, a unidade que denota o indivisível. Em síntese, a obra é muito consistente pela parte musical e a mensagem implícita a acompanhar o pensamento filosófico do schollar, Renato Shimmi, expresso em sua obra homônima ao álbum, é perfeita.


O filósofo, Renato Shimmi, autor do livro "Sob os Olhos de Eva" e que inspirou a obra musical homônima, perpetrada pelo Kaoll 

Ouça na íntegra o álbum, “Sob os Olhos de Eva”:


A ilustração da capa é muito expressiva. Com traços simples, o artista plástico, Zé Otávio Zangirolami não precisou de grandes recursos tecnológicos para contribuir com a sua criatividade, ao retratar bem o espírito da obra. Uma serpente com seu corpo a enrolar-se e formar assim a imagem do "oito infinito", diz tudo. A serpente, demonizada pelo dogma oficial, mostra aqui uma outra chave para a humanidade, diametralmente oposta. Detalhes como o símbolo atômico, o número “Pi” e o símbolo do gênero feminino, fazem parte da ilustração, mais discretamente e claro que são referências importantes para reforçar a chave do pensamento de Renato Shimmi. A VJ, Cecília Luchessi, também participa do esforço artístico coletivo, ao responsabilizar-se pelo apoio com vídeos, no aparato virtual do álbum.

Produção geral de Bruno Moscatiello; Yuri Grafunkel e Renato Shimmi
Gravado; mixado e masterizado no estúdio Medusa de São Paulo / SP
Técnico de áudio : Janja Gomes
Capa; encarte; Lay out / arte final : Zé Otávio Zangirolami
Baseado na obra filosófica : “Sob os Olhos de Eva”, de Renato Shimmi
Formação do Kaoll nessa obra :
Bruno Moscatiello : Guitarra e violão
Yuri Garfunkel : Flauta e Viola caipira
Gabriel Catanzaro : Baixo elétrico e acústico
Rodrigo Reatto : Bateria
Janja Gomes : Percussão
Fabio Leandro : Teclados
Gabriel Costa : Baixo e Glissando Guitar

Para conhecer melhor o trabalho do Kaoll, acesse :
Página no Facebook :

site oficial :

canal do youtube

Recomendo com bastante entusiasmo, o trabalho do Kaoll !

É isso aí!
Espero que gostem desta resenha e o principal, conheçam o som bem legal desta banda.

Abraços e até a próxima!

sábado, 18 de julho de 2020

Minicursos gratuitos para contrabaixo


Olá pessoal!

No meu canal do Youtube tem algumas playlists organizadas, para aqueles que querem estudar contrabaixo.
Essas playlists funcionam como minicursos e para aqueles que quiserem acessar o material, basta uma pesquisa no meu site oficial www.femtavares.com.br que encontrará o conteúdo escrito.

Curso de Harmonia




Sugestão do Mês



Técnicas Para Contrabaixo – Notas Abafadas




Técnicas para Contrabaixo - Two Hands



Técnicas para Contrabaixo - Slap



Técnicas Para Contrabaixo - Mão Direita



Abraços e bons estudos!

terça-feira, 14 de julho de 2020

Cássia Eller - Malandragem


Olá Pessoal!

Nesta semana temos a transcrição da linha de contrabaixo da música  "Malandragem" da cantora Cássia Eller., esta música conta no baixo com Fernando Nunes e está disponível gratuitamente no meu site.

Cássia Eller - Malandragem

Link para Transcrição Completa - Clique aqui


Esta transcrição faz parte de um acervo com mais de 1000 tablaturas/partituras que são usadas como material de apoio nas aulas do meu curso de contrabaixo presencial e on-line.

Para maiores informações sobre o curso entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Bons estudos e até a próxima coluna!

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Vídeo Aula - Bass Player Brasil #62 - A Escolha Modal na Linguagem Fusion


Olá pessoal!

Matéria de capa com vídeo que fiz para a edição 62 da antiga revista Bass Player Brasil.


Nesta matéria de capa eu falei sobre a escolha modal dentro da linguagem fusion. Nela temos os modos otimizados e que são utilizados para os acordes estruturais.  Esta matéria veio acompanhada desta vídeo aula.



Abraços e até a próxima coluna!

terça-feira, 7 de julho de 2020

Técnicas para Contrabaixo - Slap - Aula 07


Olá pessoal!


Nesta semana temos a sétima coluna com a técnica de Slap, na qual eu passo alguns licks alternando as matérias aprendidas nas seis colunas anteriores, se você não estudou as colunas anteriores digite Slap na pesquisa do site que estas aparecerão.

Exercício 1


Neste primeiro exercício temos os ligados e slides no Thumb.


Exercício 2


Neste exercício temos uma variação com todas as técnicas exploradas anteriormente.


Exercício 3


Aqui temos um exemplo da frase principal da música Is it Luck? Da banda Primus, nela o baixista Les Claypool faz uma frase utilizando abafados e pull-off e hammer-on tanto no pop quanto no Thumb.

 

Exercício 4


Neste último exercício temos a frase principal da música Tommy The Cat, esta música exige muito do baixista, ele começa com a fundamental e a quinta tocado com os dedos da mão direita, utilizando a técnica de struming, como se fosse para tocar um acorde de violão, e depois uma sequencia de Thumb, Pop e Ligados.

 

Estude com calma as frases e sempre tenha um repertório para aplicar o que você estuda, você pode estudar todas as técnicas do mundo mas se não conseguir aplica-las nas suas músicas, o estudo será perdido.

Abraços e até a próxima coluna!

sábado, 4 de julho de 2020

Álbuns Clássicos - Jaco Pastorius - Jaco Pastorius


Olá pessoal!

Nesta semana temos o primeiro álbum do genial baixista Jaco Pastorius. Considero esta, uma das maiores obras realizadas pelo músico em sua seminal carreira. Lançado originalmente em 1976, foi produzido por Bobby Colomby baterista da banda Blood, Sweat & Tears.

 

Faixas

01-Donna Lee - Charlie Parker - 2:27
02-Come On, Come Over - (com Sam & Dave ) Jaco Pastorius e Bob Herzog - 3:54
03-Continuum - Jaco Pastorius - 4:33
04-Kuru / Speak Like A Child - Jaco Pastorius e Herbie Hancock - 7:43
05-Portrait of Tracy - Jaco Pastorius - 2:22
06-Opus Pocus - Jaco Pastorius - 5:30
07-Okonkole Y Trompa - Jaco Pastorius e Don Alias - 4:25
08-(Used to Be A) Cha-Cha - Jaco Pastorius - 8:57
09-Forgotten Love - Jaco Pastorius - 2:14
10-(Used to Be A) Cha-Cha (Alternate Take - inédita) – Jaco Pastorius - 8:49
11-Jam 6/4 (inédita) - Jaco Pastorius - 7:45

Músicos

Jaco Pastorius - electric bass
Don Alias - congas
Narada Michael Walden - drums
Bobby Economou - drums
Othello Molineaux - steel drums
Leroy Williams - steel drums
Lenny White - drums
Herbie Hancock - electric piano
Sam Moore - vocals
Dave Prater - vocals
Randy Brecker - trumpet
Ron Tooley - trumpet
Peter Graves - bass trombone
David Sanborn - alto sax
Michael Brecker - tenor sax
Howard Johnson - baritone sax
David Nadian - violin
Harry Lookofsky - violin
Paul Gershman - violin
Joe Malin - violin
Harry Cykman - violin
Harold Kohon - violin
Stewart Clarke - viola
Manny Vardi - viola
Julian Barber - viola
Charles McCracken - cello
Kermit Moore - cello
Wayne Shorter - soprano sax
Peter Gordon - French horn
Hubert Laws - piccolo, flute
Matthew Raimondi - violin
Max Pollinkoff - violin
Arnold Black - violin
Al Brown - viola
Beverly Lauridsen - cello
Alan Shulman - cello
Richard Davis - bass
Homer Mensch - bass

Os destaques deste álbum são as músicas "Come On, Come Over", "Continuum", "Portrait of Tracy", "Opus Pocus" e a versão para a música "Donna Lee" de Charlie Parker.


Abraços e até a próxima coluna!