Olá pessoal!
Nesta semana temos uma coluna especial que eu fiz para a antiga revista Coverbaixo. Nela eu analisei as características das linhas de baixo do Rock Progressivo.
A principal característica da cozinha do rock progressivo é a precisão. Bateria e Contrabaixo andam juntos ritmicamente dando suporte as frases de guitarras e teclados, sendo que neste estilo, são freqüentes as mudanças na fórmula de compasso e muitas frases em suas levadas.
Apesar de existirem varias bandas influentes neste estilo, a cozinha tem características bem variadas dependendo dos músicos ou da banda.
O baixista trabalha geralmente criando uma linha em contraponto com a melodia, ou ainda criando uma linha fixa sobre a harmonia, deixando a cargo dos outros instrumentos a parte harmônica da música. Quanto às frases, os baixistas utilizam muitas escalas para criar suas linhas cheias de variações, dando sempre preferência para a escala maior, a menor natural, a menor harmônica e a pentatônica. Ainda é bem freqüente o uso de acordes, arpejos e outros elementos muito bem explorados pelos representantes do nosso instrumento.
Os bateristas encaixam a parte rítmica nas frases do contrabaixo ou na melodia da música, utilizando sempre uma linha mais simples como base e criando algumas variações em cima dela. É importante salientar que os bateristas deste estilo, quando aparecem os compassos alternados, fazem a levada conforme o tema e não simplesmente quebrando o tempo como é feito em outros estilos.
O Rock Progressivo é um dos estilos mais complexos para se tocar, compor ou entender. É necessária muita aplicação do músico tanto na parte harmônica, quanto na parte rítmica. Aconselho a estudar algum livro que trata de compassos alternados e o mais importante de tudo é ouvir as bandas que fizeram deste estilo um dos mais fascinantes de se tocar.
Long Distance Runaround
Esta música tem, na minha opinião, a “cozinha” mais fantástica do Rock Progressivo, que é formada pelo baixista Chris Squire e o baterista Bill Bruford. Ela foi lançada no álbum “Fragile” de 1972, realmente o trabalho feito pelos dois músicos neste álbum e particularmente nesta música é extraordinário.
O trecho transcrito corresponde a introdução da música e que retorna mais tarde no interlúdio. O tema da introdução é feito pela guitarra e pelo teclado enquanto o contrabaixo e a bateria cuidam da levada feita sobre a célula rítmica de colcheia. Neste trecho não há mudanças na fórmula de compasso, mas a acentuação é feita sempre no contratempo do compasso anterior. Vale prestar atenção à forma musical deste trecho que é feito em nove compassos, o que não é muito comum, pois na maior parte das vezes, as partes são feitas em compassos múltiplos de quatro. Esta variação ocorre porque nos três últimos compassos a “cozinha” do Yes usa uma de suas principais característica, que são as notas pontuadas (neste caso a semínima), que faz com que tenhamos a sensação de rallentando no final, que é um recurso conhecido como hemíola. É muito interessante este recurso que Chris Squire e Bill Bruford faziam com extrema precisão.
A linha de Baixo foi construída sobre a escala de Dó Mixolídio, sendo que o Fá sustenido que aparece na linha é uma blue-note. No final são utilizadas as fundamentais dos acordes correspondentes. Já a linha de bateria foi feita utilizando semínimas na condução, atente para o uso de caixas e bumbos feitos nos contratempos. O baterista Bill Bruford faz isto com muita freqüência em suas linhas de bateria e causa uma estranha sensação de que está tocando “fora do tempo”.
The Spirit of Radio
Esta talvez seja a “cozinha” mais famosa do Rock Progressivo. Estamos falando do baixista Geddy Lee e do baterista Neil Peart, ambos dotados de uma técnica impressionante, sendo assim os músicos constroem linhas marcantes e complexas.
O trecho transcrito corresponde à introdução da musica The Spirit of Radio, que está presente no álbum “Permanent Waves” de 1980. Nesta faixa os músicos construíram uma linha cheia de frases de difícil execução e utilização de várias fórmulas de compasso, sendo assim, preste atenção na parte rítmica deste trecho, pois, em minha opinião é a parte mais difícil de entender. Foram utilizadas semicolcheias e tercinas de semicolcheia, que correspondem a seis notas dentro de um tempo.
O baixista Geddy Lee utiliza a escala de Ré maior pra construir sua linha, vale ressaltar para se ter cuidado com a duração das notas, elas devem ser tocadas e ter o som cortado respeitando o valor escrito.
O baterista Neil Peart utiliza quase todas as peças da bateria durante a execução desta parte, ele faz as frases distribuindo as notas em sua bateria já que no trecho selecionado ele não esta fazendo nenhuma levada.
Procure estudar este trecho com muita paciência, pois ele é muito complexo e de difícil execução, procure limpar as notas e tocar junto com um baterista. Quando estiver na velocidade da música, as notas devem estar limpas e precisas, assim tenha cuidado pra não ocorrer nenhuma nota adiantada ou atrasada, além do mais, não perca a pegada. Lembre-se a principal característica deste estilo é a precisão.
Abraços e até a próxima coluna!