sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Artigos e Resenhas - Edilson Hourneaux - Captadores: Corrida Decibélica - Parte 1.5


Olá pessoal!
Nesta semana temos mais um artigo do luthier de Santos, Edilson Hourneaux e a quinta parte da coluna sobre construção de instrumentos. Esta e outras matérias podem ser encontradas no site do Edilson que se encontra neste link:

Já a matéria deste mês se encontra completa neste link:

Então vamos a quinta parte desta matéria:

Gibson

Orville H. Gibson sempre trabalhou com estéticas incomuns, mas seus instrumentos possuíam um diferencial muito mais significativo: o tampo e o fundo feitos com madeira maciça escavada, conhecidos como arched top e arched back side, respectivamente. Ao contrário de outras empresas de sua época (de acordo com a prática comum, as laterais dos violões e guitarras são lâminas planas de madeira que, quando expostas ao aquecimento intenso, de 150 a 200 graus Celcius, suas fibras amolecem e se flexibilizam de tal maneira que permitem a deformação na forma das curvas laterais do instrumento, de maneira relativamente fácil), Gibson também esculpia as laterais, acreditando que madeiras não tensionadas e não deformadas possuem características vibratórias superiores.

Ele já tinha observado a construção de violinos e concluído que estes instrumentos tinham ótima projeção sonora, também, graças às madeiras escavadas.

Consultei o luthier Régis Bonilha sobre a afirmação de Gibson. Bonilha diz que, segundo sua experiência, instrumentos com tampo tensionado proporcionam maior volume para cordas beliscadas, seja com plectro (palheta) ou com os dedos. Instrumentos escavados oferecem melhor resultado para cordas friccionadas.

Além disso, Gibson trabalhava com tamanhos muito maiores do que os padrões da época.
Esses instrumentos, conhecidos como “Grand Concert”, eram sinônimo de glamour e excelência na sonoridade.
As alterações de projeto resultaram num instrumento com muito mais volume e qualidade sonora.

O primeiro Grand Concert conhecido foi o Style O, de 1902.


Outro grande destaque foi o L-4, lançado em 1912.


Mas o instrumento que redefine o conceito de Grand Concert foi a guitarra modelo L-5, apresentada em 1922.
Este foi o primeiro arched top com f-holes e logo se tornou objeto de desejo entre os músicos de jazz  da época.
Outras novidades presentes na L-5 foram o reposicionamento da escala, que ficou mais alta e longa e o aumento da medida de escala, que adicionou mais tensão às cordas, melhorando a sonoridade e a projeção.


A L-5 fez parte da série Master Line Master Tone, que agrupava, junto com ela, a mandola H-5, o mando-cello K-5 e o mandolin F-5: o time de elite da Gibson, no início da década de 1920.

Espero que estejam curtindo as colunas do Edilson Hourneaux. Na próxima coluna veremos a continuação deste artigo.
Um abraço e bons estudos!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Técnicas Para Contrabaixo – Notas Abafadas – Parte 3


Olá pessoal!
Nesta semana temos a terceira coluna sobre técnica de notas abafadas. 
Nos exercícios à seguir demonstrarei as principais aplicações do abafado em músicas mais suingadas. É importante que os exercícios anteriores estejam bem desenvolvidos e também as divisões rítmicas bem "seguras" para obtermos a sonoridade desejada. Se você ainda tiver dúvidas sobre ritmo, tente saná-las antes de seguir.

Os exercícios são aplicados sobre a mesma sequencia harmônica das colunas anteriores, uma cadência formada pelos acordes de Em7 (II) e A7 (V).

Exercício 1

No exercício 1, temos a levada construída com a colcheia tocada no contratempo, ou seja, no tempo fraco. Para aqueles que tem dificuldade com este tipo de levada aconselho contar 1 e 2 e 3 e 4 e, e tocar sempre que disser a letra "e". Nos compassos 3 e 4 temos aplicada a nota abafada em uma semicolcheia antes da nota executada, se você dividir o tempo em quatro semicolcheias o abafado é executado na segunda semicolcheia e a nota na terceira semicolcheia, este artifício é muito usado por baixistas de diversos estilos quando procuram dar um suingue maior no seu groove.


Exercício 2

No exercício 2, temos uma levada muito comum em músicas do estilo Pop, o baixo "cola" no bumbo executando as divisões rítmicas apresentadas nos dois primeiros compassos do exercício. Já nos compassos 3 e 4 temos a ideia de colocar um abafado uma semicolcheia antes das notas. Cuidado para não "sujar" o groove atrasando a nota e saindo do bumbo.


Exercício 3

No exercício 3, temos uma condução com frases sobre cada acorde, para o Em7 utilizei uma frase com a escala de Mi Dórico e sobre o A7 utilizei uma frase com a escala Blues Maior de Lá. No s dois primeiros compassos temos a frase simples e nos compassos 3 e 4, as variações utilizando abafados. Percebam que neste exercício já temos a ideia de substituir algumas notas pelos abafados e também os abafados dobrados no último tempo do compasso.



Agora os exercícios já estão sendo feitos com uma ideia bem mais musical. Ainda são exercícios e visam um maior domínio da técnica. Pratique-os com calma, pois usaremos estas ideias nas próximas colunas.

Vídeo



Um abraço e bons estudos!

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Documentário do Mês - Frank Zappa: Classic Albums - Apostrophe


Olá pessoal!

O documentário deste mês faz parte da série Classics Albums e fala sobre a composição, gravação e lançamento dos álbuns Over-nite Sensation & Apostrophe' do genial guitarrista e compositor Frank Zappa.

Este documentário é importante para entender como era o trabalho de Zappa na produção de um álbum, além de extras imperdíveis, como "Welcome to the vault" em que o baterista do Zappa Plays Zappa, Joe Travers mostra as fitas que foram gravadas durante toda a carreira do compositor. Vale a pena assistir só por este extra.


https://qello.com/concert/Classic-Album-Apostrophe-Over-Night-Sensation-4388

Ficha técnica
Direção:  Matthew Longfellow
País: UK | USA
Idioma: Inglês
Data de lançamento: 2007 (USA)
Eagle Rock Entertainment, Isis Productions
Tempo: 97 min

Abraços e até a próxima coluna!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Transcrição do Mês - Yes - Heart of the Sunrise


Olá pessoal!
estamos de volta nesta semana para mais uma transcrição comentada. A música escolhida neste mês é uma homenagem a um dos maiores baixistas da história do Rock e com certeza um dos mais influentes de um estilo que ficou conhecido como rock progressivo.

Clique aqui para download da Transcrição Heart of The Sunrise em PDF

Heart of the Sunrise está no álbum Fragile e está dividida em várias partes. Os trechos são repetidos poucas vezes e no final da música quando alguma ideia é retomada, ela volta em uma nova tonalidade, no decorrer do texto iremos descrever estas partes. Esta é uma das músicas mais elaboradas da carreira da banda e é muito interessante prestar atenção nas diversas camadas musicais, nas variações de andamento, de fórmulas de compassos, além de partes mais calmas com partes mais rápidas.
A introdução da música é feita utilizando a escala de G# menor, preste atenção aos cromatismos utilizados pela banda e que dão um efeito muito interessante ao trecho. Perceba também como o efeito causado pela variação de execução da frase em oitavas diferentes também causa uma sensação bem legal para o trecho. Esta primeira introdução ocorre várias vezes durante a música, portanto, tente entender a frase, pois ela será a ligação entre diversas partes. A fórmula de compasso deste trecho é 3/4.
No compasso 17 temos uma pequena ponte para a segunda parte da introdução, sendo este novo material construído com a Pentatônica de G# menor. Percebam a maestria de Squire para lidar com a pentatônica e as variações que o baixista constrói. Elas são feitas alternando o sentido da frase, além de mexer com a parte rítmica o tempo inteiro, construindo frases basicamente com colcheias, porém não deixando de explorar as tercinas e as semicolcheias em algumas passagens. Esse trecho ocorre do compasso 21 até o compasso 74.
No Compasso 75 temos a volta da introdução, em que são trabalhados os mesmos aspectos e a tonalidade do trecho também é mantida. Esta parte é construída até o compasso 132.
No Compasso 155 tem início uma belíssima linha de baixo, que é atrelada a base de voz, esta linha é maravilhosa e demonstra toda a criatividade de Squire, nela são trabalhadas as notas das tríades, além das pentatônicas dos respectivos acordes. Os ornamentos dão um toque muito especial para esta pequena maravilha criada pelo baixista. Esta linha começa na parte aguda do instrumento, indo para a parte grave no refrão, sendo que a frase é construída da mesma maneira.
No Compasso 169 temos um interlúdio em que os acentos em partes fracas do tempo são explorados para causar um efeito interessante, já que na parte melódica são trabalhadas apenas as fundamentais de cada acorde.
No Compasso 176 uma nova base de voz é apresentada, sendo que são utilizadas as mesmas ideias da base de voz anterior, porém a linha construída é totalmente diferente, nos demonstrando como as ferramentas são secundárias quando o baixista possui uma criatividade em um alto nível.
Voltamos para a primeira base de voz entre os compassos 182 e 187, sendo que a partir do compasso 188 se inicia o refrão da música que é executado de uma maneira diferente que o primeiro refrão. Neste temos duas linhas de baixo, na transcrição só temos uma delas, pois uma das linhas só executada as fundamentais de cada acorde, já a segunda linha executa os acordes, primeiro tocando as notas simultaneamente nos dois primeiros compassos e nos próximos compassos os acordes são executados de forma "dedilhada" como em um violão.
Novamente temos o interlúdio no compasso 196 e a segunda base de voz a partir do 208.
No compasso 213 se inicia uma nova arte da música, sendo esta uma das mais difíceis em nível de execução da canção, na qual o baixista faz uma frase utilizando apenas duas notas, a fundamental e a sétima maior do acorde de D#m, e no compasso 221 temos a volta da introdução. A partir desta reexposição da introdução o baixista varia diversas vezes entre esta e uma frase com a fundamental e a quinta do acorde de D#m.
No compasso 253 inicia-se o solo de guitarra, e o grande destaque deste trecho é a dinâmica utilizada pela banda, perceba que na primeira vez eles tocam tudo piano, para na repetição tocar a mesma ideia, porém com mais força. As dinâmicas são o grande ponto desta linha de baixo, já que na primeira parte do trecho são utilizadas apenas as fundamentais dos acordes e na segunda parte o baixista cria uma frase muito interessante, trabalhando em contraponto com a melodia de voz, mais uma vez é perceptível o conhecimento musical dos membros da banda, já que eles abrem mão de recursos pouco utilizados por músicos do rock em geral.
A partir deste momento (compasso 301) a música se encaminha para o seu final. Os trechos são reapresentados, seguindo as mesmas ideias utilizadas até então, porém em tonalidades diferentes.
Esta música requer muita dedicação do estudante, pois todos os trechos são feitos de maneira virtuose e muito criativa pelo excepcional baixista Chris Squire, sendo que podemos afirmar categoricamente que o baixista era um dos músicos mais criativo de sua época, tendo influenciando diversos músicos da sua geração e de gerações posteriores. Além de possuir uma habilidade técnica e conhecimento harmônico fenomenais, trabalhava como ninguém variações rítmicas com mudanças constantes de fórmulas de compassos e também contratempos, síncopes e hemíolas para criar linhas excepcionais como esta da música Heart of the Sunrise.
Esta é uma daquelas músicas que todos os músicos deveriam ter em seu repertório. Estude com calma todos os trechos, analise as passagens e tente entender o que foi usado e como é a sonoridade de cada elemento utilizado pelo baixista.
Um abraço, bons estudos e até a próxima coluna!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Artigos e Resenhas - Anos de Desbunde, Quando a MPB era Hippie e Sensacional - Por Luiz Domingues


Olá pessoal!
Estamos de volta com mais uma coluna Artigos e Resenhas aqui no nosso site. Mais uma vez temos uma matéria do sensacional Luiz Domingues, mas para aqueles que estão acostumados com suas fantásticas resenhas teremos neste mês uma coluna diferente.
Luiz Domingues nos presenteia com uma reflexão fantástica sobre a MPB dos anos 1960-70.
Esta matéria pode ser encontrada em seu blog http://luiz-domingues.blogspot.com/2015/09/anos-de-desbunde-quando-mpb-era-hippie.html
Lembrando que o nosso amigo possui três blogs diferentes que estão nos links abaixo.
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/
http://luizdomingues3.blogspot.com.br/

Um breve release do Luiz feito pelo próprio:
Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste Blog particular, reúno minha produção geral e divulgo minhas atividades musicais. Como músico, iniciei minha carreira em 1976, tendo tocado em diversas bandas. Atualmente, estou atuando com Os Kurandeiros.

Sem mais conversas, vamos ao texto do Luiz

Anos de Desbunde, Quando a MPB era Hippie e Sensacional - Por Luiz Domingues

Naquele turbilhão de acontecimentos que ocorreram no campo da cultura e com consequências na área sócio / comportamental entre as décadas de sessenta e setenta, a música popular brasileira também sofreu forte influência de tais acontecimentos gerados.
Após décadas sem produzir grandes novidades estéticas, o grande diferencial na MPB havia sido a explosão da Bossa Nova no final dos anos cinquenta, e a música internacional parecia não incomodá-la, havendo a grosso modo, uma convivência pacífica entre as duas correntes. Mesmo porque, no caso da Bossa Nova, a raiz comum no Jazz como parâmetro, principalmente no tocante à composição e arranjos, privilegiando o uso de harmonia sofisticada, fazia com que a estrutura instrumental de ambos os estilos, fosse bem parecida.
Com exceção de artistas que usavam o violão como acompanhamento, era comum na Bossa Nova, a utilização de uma formação de piano, baixo acústico e bateria para acompanhar cantores dessa escola estética, repetindo o formato do combo clássico de Jazz Stand.
Mas houve um momento em que a nova música pop que vinha principalmente da Inglaterra, começou a incomodar os adeptos da MPB tradicional. Garotos cabeludos e “barulhentos” tentando reproduzir o som de artistas negros americanos, e com raízes no Blues, entraram com força no imaginário popular, assustando os tradicionalistas com tantas mudanças, forçando-os a reagir da pior maneira possível.   
Numa demonstração de incompreensão e ranço reacionário inadmissível por parte de alguns que nem tinham perfil para se portarem dessa forma, organizaram uma vergonhosa “Marcha contra a Guitarra Elétrica”, como forma de “proteger” a pureza da MPB.
Como artistas de qualidades inquestionáveis, puderam participar de uma jornada lastimável dessa monta ?
Não cabe julgamento, tampouco execração pública, no sentido de que todos estamos sujeitos a errar. Faz parte da vida, em qualquer área, a possibilidade de dar um passo errado e no cômputo geral, sábio é aquele que aproveita o momento de adversidade para crescer em cima de sua coragem de ter tentado, e humildade em reconhecer a falha. Mas para efeito de história, essa tal “marcha” pode ser considerada um divisor de águas na MPB, que passaria por mudanças drásticas, doravante.
Logo na metade da década, ainda no calor da marcha reacionária e corporativista, começaram a pipocar festivais universitários de MPB, e logo, a ideia foi parar nos canais de televisão. Nem preciso me alongar nesse parágrafo para exprimir o quanto os festivais da TV Record foram importantes para a MPB. E dentro deles, a grande capacidade de transformação da MPB, já estava em curso, com jovens incorporando elementos do Rock internacional.


Guitarras, baixo elétrico e teclados eletrônicos entraram com tudo, subindo ao palco para interagir com os instrumentos tradicionais e até de orquestras que costumavam acompanhar cantores da velha guarda, usando smokings, com aquelas vozes impostadas e gestual formal. Nessa altura, a Jovem Guarda já dava as cartas nas “jovens tardes de domingo”, e a consequente aceitação de cabeludos com guitarras na TV, já inevitável. Mas a despeito de parecer algo revolucionário, a Jovem Guarda não era Rocker 100%, e nem MPB em sua essência. Influenciada sim, pelo Pop Bubblegum internacional, via British Invasion, sua amálgama brasileira no entanto, flertava fortemente com o brega dos bairros suburbanos das grandes cidades, e sem muito quilate artístico para se sustentar como estética a entrar para a história, a não ser pelo hype midiático.
Portanto, salvo raras e boas exceções, não foi da Jovem Guarda que a MPB achou novos rumos, apesar de artistas como Roberto Carlos terem se tornado mega populares (e para corroborar a minha tese, a carreira do Roberto, no pós anos sessenta, enveredou para o “romântico popular”, é um fato.)
Por isso, a grande mudança começou para valer mesmo, dentro da explosão dos festivais, onde artistas antenados na modernidade e sobretudo isentos de qualquer ranço reacionário, trouxeram o que havia de mais sensacional no Rock; Black Music; Jazz, e experimentalismo em geral para a nova MPB que se construía ali.
Outro ponto importantíssimo ocorreu ao final da década de sessenta e início dos anos setenta, quando a Black Music se fez presente na MPB, com muita força. Além de uma safra sensacional de novos artistas surgidos nessa cena Black, com Tim Maia como “síndico desse condomínio”, é claro, alguns outros artistas se aproximaram dessa onda, com bastante inspiração.


Foi o caso de Marcos Valle, outrora artista consagrado na cena do Samba-Jazz, cujo repertório base até então, privilegiava o samba em várias vertentes, mas depois de conhecer a Soul Music, abriu um novo horizonte na sua carreira, sem dúvida, abrindo-se até para o Rock, nos anos setenta, através de sua própria interpretação, além de cantoras de quilate como Elis Regina e Claudia, por exemplo.




E até o Roberto Carlos flertou (e muito bem), com a Black Music. 


Para quem é historiador da música, sabe bem que existiu um hiato na carreira dele, que é muito interessante entre a fase da Jovem Guarda e o mergulho no romântico-brega, onde ele teve um momento "Soul", muito bom, com o apoio do Erasmo Carlos e Tim Maia, sobretudo, que certamente já curtiam essa onda, anteriormente.
Outra vertente que explodiu no início dos anos setenta, foi a de artistas que eram acintosamente influenciados por correntes do Rock internacional, como a psicodelia e o Rock Progressivo. Nesse aspecto, a proximidade histórica do Rock Progressivo com a música Folk europeia, naturalmente fez com que artistas de diferentes regiões do Brasil, fizessem a mesma associação. Fato explicável com propriedade por qualquer musicólogo, a música folclórica, seja lá de qual nação represente, tem uma raiz comum e é base primordial da música erudita. Como o Rock Progressivo bebe na fonte da música erudita, sempre se casa com o Folk, de uma maneira harmônica.


Isso explica portanto, a extrema felicidade com a qual os compositores mineiros egressos do movimento que entrou para a história como “Clube da Esquina”, entraram com tudo no mercado setentista, trazendo a música Folk das montanhas mineiras, com sonoridade de Rock Progressivo e inquestionável quilate artístico.


O mesmo raciocínio se dá com alguns artistas nordestinos. A junção de suas raízes folclóricas multifacetadas com o Rock, abriu caminho para uma série de artistas geniais, que uniram a psicodelia hippie, lisérgica e ufológica, ao som do agreste.
No meio da década de setenta, uma safra de artistas anteriormente relegados ao quase anonimato do underground, finalmente veio à tona, graças a um festival que tentava resgatar a aura dos festivais sessentistas. Era o Festival “Abertura”, da Rede Globo, realizado em 1975, e que se não conseguiu o mesmo glamour que pretendia repetir de 1967, ao menos teve o mérito de colocar artistas performáticos na crista da onda.


De minha parte, acrescentando agora a minha impressão pessoal de época, visto que nos anos setenta eu era adolescente e já acompanhava com total interesse tal cena artística, nem eu, nem meus amigos, fazia distinção entre o Rock e a MPB. Nossa visão era de que as duas escolas caminhavam juntas, ideológica e esteticamente falando, diferenciando-se apenas em formatos, mas como falam os franceses, “Vive La diference” !!
A essência era Hippie, mesmo para artistas que não se coadunavam abertamente em tal conceito. Se o Walter Franco falava pausadamente em que “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, isso era coadunado com o Gilberto Gil dizendo : “Se Oriente rapaz, pela constelação”... 
“Viva a Sociedade Alternativa”, poderia ter sido cantado pelo Country Joe McDonald em Woodstock, ou ser palavra de ordem para enaltecer a “Nutopia”do John Lennon...


Com os “cabelos ao vento, gente jovem colorida”, não queremos repetir os erros dos "nossos pais". O negócio é tomar um “táxi para uma estação lunar”, "amiúde, Avohai", ele diz que mora na baleia por vontade própria...
E quem sabe ir para o interior, se instalar numa “Casa no Campo, com meus discos, meus livros e nada mais”, porque “não dá para confiar em quem tem mais de trinta anos”...
Dá para fazer uma série de outras associações, mas a amálgama é sempre a raiz Hippie, com seus ideais de fraternidade; igualdade; amor à arte; liberdade; além de forte apelo espiritualista, com consequentes ligações com a ecologia; ambientalismo; sustentabilidade; anticonsumo; pacifismo, e uma série de outros atributos.
Uma frase da Gal Costa, publicada recentemente (2014), deu a letra : -“A MPB era legal nos anos setenta quando virou Hippie”. Claro, Gal era "le-gal", "to-tal" e "fa-tal"...


De fato, considerando que naquela época, as novidades internacionais sempre chegavam com bastante atraso no Brasil, não é surpreendente constatar que o Flower Power que entrara em declínio no Pós-1969, chegasse no Brasil, alguns anos depois.
Nesse contexto, a explosão Hippie no Brasil foi no início dos anos setenta, e causou esse impacto na MPB, sem dúvida.


Citei poucos artistas e obras nesta matéria, propositalmente, porque esse tema, além de fascinante, gera desdobramentos.
Portanto, para não se tornar um ensaio gigantesco, paro por aqui, mas voltarei ao tema em matérias futuras, porque é um assunto vasto.


Por enquanto, deixo a constatação : a MPB quando era Hippie e "desbundada", era sensacional !!


Matéria escrita inicialmente para a revista impressa Gatos & Alfaces, nº 5, de abril de 2015

Bom, é isso aí, espero que tenham gostado deste artigo sensacional do Luiz. Abraços e até a próxima coluna!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Sugestão do Mês - Stan Getz & João Gilberto - Getz/Gilberto


Este é com certeza um dos mais representativos álbuns da nossa musica. Getz / Gilberto foi lançado  em 1964 pelo saxofonista americano Stan Getz e o violonista brasileiro João Gilberto, com a participação do compositor e pianista Antonio Carlos Jobim. Este foi o disco que instituiu a Bossa Nova nos Estados Unidos. Este disco tornou-se um dos álbuns mais vendidos de jazz de todos os tempos, e transformou a cantora Astrud Gilberto em uma estrela internacional.





Faixas:
01. Garota de Ipanema (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Norman Gimbel) 05:24
0
2. Doralice (Dorival Caymmi, Antonio Almeida) 02:46
0
3. Para Machucar Meu Coração (Ary Barroso) 05:05
0
4. Desafinado (Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça) 04:15
0
5. Corcovado (Antônio Carlos Jobim, Gene Lees) 04:16
0
6. Só Danco Samba (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes) 03:45
0
7. O Grande Amor (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes) 05:27
0
8. Vivo Sonhando (Antônio Carlos Jobim) 03:04

Músicos:

Stan Getz - Saxofone Tenor
João Gilberto - Violão, Vocais
Antonio Carlos Jobim - Piano
Sebastião Neto - Contrabaixo
Milton Banana - Bateria
Astrud Gilberto - vocal (em Garota de Ipanema e Corcovado)

Opinião:
Para mim este é um dos discos de bossa nova que eu mais escutei, com certeza as composições são fantásticas e os músicos excepcionais. Os baixos são característicos do estilo e na maior parte do tempo tocados em semínimas utilizando a fundamental de cada acorde como base. Os improvisos de Stan Getz são de uma musicalidade impar, sendo que o mais belo (se é que da pra escolher um) é o da musica Para Machucar Meu Coração.

Alguns prêmios deste álbum

-Grammy Awards 1965 de Melhor Álbum do Ano, Melhor Álbum de Jazz Instrumental - Individual ou Grupo e Melhor Álbum Projetado, Non-Classical. Garota de Ipanema também ganhou o prêmio de Gravação do Ano em 1965. Esta foi a primeira vez que um álbum de jazz recebeu o premio de Melhor Álbum do Ano.
-
Em 2003, o álbum foi classificado número 454 na lista da revista Rolling Stone dos 500 maiores álbuns de todos os tempos.
-Ele foi listado pela revista Rolling Stone Brasil como um dos 100 melhores álbuns brasileiros da história. 


Vídeo:



Abraços e até a próxima coluna!

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Transcrição - Barão Vermelho - Bete Balanço


Olá Pessoal!

Nesta semana temos a transcrição da música "Bete Balanço" da banda Barão Vermelho com o baixista Dé disponível para os alunos do meu curso de contrabaixo presencial e online.

Para maiores informações sobre o curso entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Abraços e até a próxima matéria!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Harmonia - Aula 09 - Escalas Menores - Parte 2


Olá pessoal!
Nesta aula damos continuidade aos estudos das escalas menores. Lembrando que esta é a nona parte da coluna de harmonia, na qual trabalhamos diversos aspectos desde o nível iniciante. Para quem não estudou as outras colunas, pesquise no site e/ou youtube para assistira as aulas anteriores.

Nesta semana a escala estudada será a menor harmônica.

Escala Menor Harmônica

A escala menor harmônica distingue-se da escala menor natural pelo uso da sétima maior. Este intervalo é a chamada nota sensível (deve repousar sobre a Tônica da tonalidade) por isso esta escala é utilizada como base para as combinações harmônicas. Ela é formada pelos intervalos de T, 2, 3m, 4, 5, 6m, 7M.
Veja abaixo como ficariam a sequencia de tons e semitons.


Perceba que entre a sexta menor e a sétima maior temos um intervalo de segunda aumentada. 
Abaixo temos a principal digitação da escala menor harmônica.

Como sugerido nos estudos anteriores. Inicie a escala a partir de várias fundamentais e faça os estudos práticos e teóricos.

Vídeo


Bons estudos e até a próxima coluna!