quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Teoria e Análise: Jazz-Fusion

 


Olá pessoal!

Nesta semana damos continuidade a nossa coluna de teoria e análise. Diferente das outras colunas deste blog nas quais eu passo estudos teóricos e práticos sobre os assuntos abordados, neste espaço buscamos refletir sobre os conteúdos e instigar novas pesquisas dos leitores.

Durante toda a minha carreira me deparei com "padrões" de análises como a harmonia funcional, as teorias tradicionais e outros modelos conhecidos e estudados pelos músicos.

Em 2017 fui apresentado no Lamus à teoria de Robert Gjerdingen que envolve os esquemas contrapontísticos do período galante - ver a coluna anterior com indicação de bibliografia - e comecei a refletir sobre o uso de outros modelos que não os mais tradicionais na análise da música popular como um todo. 

Vamos começar pelo jazz e fusion e a minha experiência com os estudos destes estilos.

Dentre os diversos autores que estudei, dois me chamaram a atenção e eu busquei me aprofundar nos estudos propostos por eles. O primeiro foi Jamey Aebersold e o seminal livro Como improvisar Jazz e Tocar - veja a coluna sobre este livro aqui - e posteriormente a sua enorme coleção de livros sobre o estilo -veja os livros para compra neste link - nos quais o autor demonstra a aplicação de escalas e arpejos em sequências harmônicas e standars de jazz. O segundo autor foi Mozart Mello, com o qual eu pude conviver não só como aluno, mas também como amigo e sócio e com quem tive conversas extensas sobre a música em toda a sua dimensão - você pode conferir os seus cursos aqui.

Em ambos os autores, me chamou a atenção a semelhança ao modelo de ensino e estudo do período galante, ou seja, a construção de protótipos sonoros - harmônicos no caso do jazz e contrapontísticos no caso do galante -  que serviam como base para a construção composicional de ambos os estilos.

Obviamente, não estou dizendo que há uma conexão direta entre os dois universos musicais e menos ainda que os músicos de jazz se inspiraram diretamente com os do galante. O que realmente quero dizer é que criar esquemas é um processo comum do ser humano e o uso deles faz parte do modelo de transmissão de conhecimento "informal" entre os músicos, ou seja, é um código que os músicos devem dominar para poder transitar pelas sonoridades que almejam produzir.

Assim, sugiro que não só olhem para o conteúdo destes dois professores que eu citei, mas que busquem compreender o que está nas entrelinhas de seus escritos:

- Pratique exaustivamente os protótipos musicais e busquem ampliá-los com a utilização de diversas ferramentas sonoras que impactarão a sua sonoridade de forma positiva. Darei um exemplo rápido para compreendermos isso.

John Coltrane  (23 de setembro de 1926 — 17 de julho de 1967), dominou os estudos da forma Blues (vide Mr. PC e Equinox) e dos standars (ver versões para Autumn Leaves e outros) e as suas sequências harmônicas, como por exemplo o ii V I tão usual no Jazz. 

Após anos de prática sobre estes esquemas, o músico passou a buscar uma forma de avançar e utilizar outras sonoridades, como a apresentada pelo músico Nicolas Slonimsky no livro Thesurus of scales and melodic patterns. Este estudo levou o músico a alcançar um patamar sonoro que o coloca entre os grandes do Jazz, com uma sonoridade que muitos julgam inalcançavel, mas que sabemos que foi obtida com o estudo de modelos de fraseado sobre esquemas harmônicos padrões do estilo.

Em suma, o que pretendo demonstrar para vocês é a necessidade de se compreender os esquemas do Jazz e do Fusion e estudá-los desde a forma mais tradicional até os modelos mais modernos.

Assim, aconselho ao aluno iniciante ou intermediário na arte da improvisação praticar exaustivamente os arpejos, as escalas e as frases dentro dos esquemas básicos que são:

  • V7 - I ou V7 - i
  • ii - V7 - I ou iiø - V7 - i
  • Blues Maior
  • Blues Menor
  • Estruturais ii - V7/III - III - VI - iiø - V7 - i - % (abertura de Autumn Leaves)
  • I - % - V7/V - % - ii - V7 - I - %

É isso aí!
Espero ter contribuido com alguma reflexão sobre os modelos harmônicos. 

Abraços e até a próxima coluna!

Fernando Tavares é pesquisador, professor e contrabaixista. Contribuiu com diversas publicações para revistas especializadas em contrabaixo e hoje é membro do LAMUS (Laboratório de Musicologia da EACH-USP Leste), do CEMUPE (Centro de Musicologia de Penedo) e do LEDEP (Laboratório de Educação e Desenvolvimento Psicológico da EACH-USP Leste).

É Mestre e Doutorando em Musicologia pela ECA-USP e é bolsista da CAPES.

"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

"This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

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