segunda-feira, 28 de abril de 2025

Matéria "Lugar de Baixo é na Cozinha"


Olá, pessoal!

Nesta semana, trago uma coluna especial que escrevi para a antiga revista Coverbaixo, na qual analiso as principais características das linhas de baixo do Rock Progressivo.

Este artigo faz parte da minha coleção, composta por diversos estudos sobre contrabaixo, teoria musical e análise musical.

Para conferir outros trabalhos e artigos que publiquei, acesse o link:
http://www.femtavares.com.br/p/midiaimpressa-fernandotavares-sempre.html

Caso tenha interesse em mais informações, entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com


"Lugar de Baixo é na Cozinha"

A principal característica da cozinha do Rock Progressivo é a precisão. Bateria e contrabaixo atuam em perfeita sincronia rítmica, oferecendo suporte sólido às frases elaboradas por guitarras e teclados. Nesse estilo, são comuns as mudanças de fórmula de compasso e a utilização de frases rítmicas complexas nas levadas.

Embora existam várias bandas influentes no gênero, as características da seção rítmica variam significativamente de acordo com os músicos ou a banda em questão.

No contrabaixo, o baixista frequentemente desenvolve linhas que contrapõem a melodia principal ou estabelece uma linha fixa baseada na harmonia, delegando a construção harmônica aos outros instrumentos. Para criar essas linhas, os baixistas exploram uma ampla variedade de escalas, com destaque para a escala maior, a menor natural, a menor harmônica e a pentatônica. Também é comum o uso de acordes, arpejos e outros elementos técnicos, habilmente empregados pelos mestres deste instrumento no estilo.

Já os bateristas integram a parte rítmica às frases do contrabaixo ou à melodia da música, utilizando linhas básicas como fundamento e introduzindo variações criativas. É importante destacar que, ao trabalhar com compassos alternados, os bateristas no Rock Progressivo geralmente seguem a estrutura temática da música, evitando "quebras" rítmicas aleatórias, como ocorre em outros gêneros.

O Rock Progressivo é amplamente reconhecido como um dos estilos mais desafiadores, tanto para tocar quanto para compor ou compreender. Ele exige dos músicos um alto nível de dedicação e habilidade, tanto na parte harmônica quanto na rítmica.

Recomendo o estudo de materiais específicos sobre compassos alternados, além de dedicar tempo à audição das bandas que consolidaram este gênero como um dos mais fascinantes na música contemporânea.

Long Distance Runaround

Esta música apresenta, na minha opinião, uma das “cozinhas” mais impressionantes do Rock Progressivo, composta pelo baixista Chris Squire e pelo baterista Bill Bruford. Lançada no álbum Fragile em 1972, o trabalho desenvolvido por esses dois músicos, especialmente nesta faixa, é absolutamente extraordinário.

O trecho transcrito corresponde à introdução da música, que retorna mais tarde no interlúdio. O tema inicial é executado pela guitarra e pelo teclado, enquanto o contrabaixo e a bateria estabelecem a base rítmica com uma célula contínua de colcheias. Embora neste trecho não ocorram mudanças na fórmula de compasso, a acentuação rítmica é feita sempre no contratempo do compasso anterior.

Outro aspecto notável é a forma musical deste trecho, que se desenvolve em nove compassos, algo incomum, já que partes musicais são frequentemente estruturadas em múltiplos de quatro. Essa variação deve-se aos três compassos finais, nos quais a “cozinha” do Yes utiliza uma de suas características marcantes: notas pontuadas (neste caso, semínimas). Esse recurso cria a sensação de um rallentando no final, conhecido tecnicamente como hemíola, e é executado com extrema precisão por Squire e Bruford.

A linha de baixo é construída sobre a escala de Dó Mixolídio, destacando-se o Fá sustenido, que funciona como uma blue note. No final do trecho, as notas fundamentais dos acordes correspondentes são utilizadas para reforçar a harmonia. Por sua vez, a linha de bateria emprega semínimas na condução, com caixas e bumbos acentuando os contratempos. Essa abordagem, frequentemente adotada por Bill Bruford, gera uma sensação intrigante de que ele está tocando “fora do tempo”, adicionando complexidade e riqueza rítmica à peça.



The Spirit of Radio

Esta talvez seja a “cozinha” mais icônica do Rock Progressivo, formada pelo baixista Geddy Lee e pelo baterista Neil Peart. Ambos músicos de técnica impressionante, construíram linhas marcantes e complexas que são referência no gênero.

O trecho transcrito corresponde à introdução da música The Spirit of Radio, presente no álbum Permanent Waves de 1980. Nesta faixa, os músicos criaram uma linha rica em frases desafiadoras e com o uso de várias fórmulas de compasso. Particularmente, a parte rítmica deste trecho merece atenção especial, pois é, na minha opinião, a mais difícil de compreender. Ela emprega semicolcheias e tercinas de semicolcheia, equivalentes a seis notas dentro de um tempo, exigindo precisão técnica.

O baixista Geddy Lee utiliza a escala de Ré maior para construir sua linha. É fundamental prestar atenção à duração das notas: elas devem ser executadas com o som cortado de acordo com o valor indicado, garantindo clareza e definição.

Já o baterista Neil Peart explora quase todas as peças da bateria, distribuindo as notas entre elas para criar frases complexas. No trecho analisado, ele não apresenta uma levada fixa, mas sim uma abordagem mais solta, destacando sua criatividade rítmica.

Recomendo estudar este trecho com muita paciência, pois sua execução é extremamente desafiadora. Trabalhe para limpar as notas e toque preferencialmente junto com um baterista. Quando alcançar a velocidade original da música, certifique-se de que as notas estejam limpas e precisas, evitando atrasos ou adiantamentos. Além disso, mantenha a pegada firme, pois a precisão é a principal característica deste estilo.


Para obter mais informações, entrem em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Redes sociais:

Facebook: https://www.facebook.com/femtavares
Instagram: https://www.instagram.com/femtavaresbaixo

Bons estudos e até a próxima coluna!

quinta-feira, 24 de abril de 2025

CD - Apostrophe' Trio - Apostrophe'

 

Olá pessoal!


Em 2017 eu lancei o primeiro álbum do projeto Apostrophe' em formato trio. Já escutaram o CD?

Ele está disponível em diversas plataformas de streaming.







Youtube:


Ficha técnica:


01 – Apostrophe'
02 – Clima
03 – Ilusões (Incluindo Sonhos e Realidade)
04 – Corações da Noite
05 – Sons da Mente (Parte 1)
06 – Sons da Mente (Parte 2)
07 – Thaís e a Festa
08 – Meu Irmão é um Cara Livre?!
09 – Ventos da Liberdade

Produzido por Fernando Tavares
Todas as músicas arranjadas por Apostrophe'
Guitarra Base na Faixa 07 por Sergio Casalunga, Pianos nas faixas 05 e 06 por Fernando Tavares
Gravado, Mixado e Masterizado no Estúdio Tecnoarte por Armando Leite entre Julho e Dezembro
de 2016.
Todas as músicas compostas por Fernando Tavares, exceto faixa 02 por Mozart Mello.

Abraços!

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Participação em Mesa Temática no V Congresso da ARLAC/IMS 2022

Olá pessoal!

Estou aqui hoje para falar da minha participação na Mesa Temática "Estudos de Significação Musical aplicados à Música na América Portuguesa" apresentado no V Congreso ARLAC/IMS que ocorreu entre os dias 20 e 22 de Abril de 2022.

Evento: V Congresso da ARLAC/IMS

Período do Evento: 20 e 22 de Abril de 2022.

Local: Universidad Internacional de Andalucía (UNIA)


Resumo da Mesa Temática

Os estudos de Significação Musical têm se desenvolvido na América Latina como um espaço para compreender suas representações simbólico-musicais a partir dos trânsitos de múltiplas culturas que formam sua expressão/percepção e dão voz às práticas discursivas a partir de sua pluriculturalidade. O jogo de forças que atuam nesse processo se cristaliza nos intensos vórtices que se movem por uma ocidentalidade assimilada, porém nem sempre reconhecida como única mediadora/legitimadora para a autorrepresentação de seus afetos mais orgânicos. É neste aspecto que a Significação Musical dá suporte para os estudos das relações simbólicas.  Seu fundamento é que signos musicais podem se tornar códigos que estabelecem redes inter e intrasemióticas que sustentam a relação sentido/referencialidade dentro de processos de escutas compartilhadas socialmente, ou seja, uma escuta definida por uma comunicação informal sustentada numa condição socioantropológica do processo cognitivo/comunicativo. Esta mesa propõe associar os trabalhos mais destacados dos membros do Laboratório de Musicologia da EACH-USP no campo dos estudos da música luso-brasileira, tida como música colonial. Diósnio Machado Neto apresentará um panorama geral do que estudos de significação tem contribuído para uma melhor compreensão do processo criativo na colônia. Partindo especificamente do que na poesia árcade se denominou estilo herói-cômico, a comunicação pretende demonstrar como esta estética se constituía na música, como retórica e oratória, a partir de composições de motetes de José Maurício Nunes Garcia.  Ágata Yozhiyoka discutirá a representação da morte como espaço discursivo na música religiosa luso-brasileira, focando nos aspectos das renovações ocorridas no discurso sobre o fúnebre, nas primeiras décadas do século XIX. Especificamente abordará as mudanças no tratamento dos campos expressivos nos Et Incarnatus/Cricifixus nas missas novecentistas compostas pelos compositores orgânicos à corte portuguesa no Brasil. Ozório Christovan discutirá a relação entre comunicação e significação musical como fundamento de uma análise crítica do discurso musical do compositor luso-brasileiro André da Silva Gomes. Fernando Tavares e Gustavo Caum e Silva apresentarão como as pedagogias dos partimentos davam suporte para a assimilação de esquemas de contraponto, assim como os próprios partimentos, como a Regras da Oitava, e os movimentos de baixo por graus conjuntos e disjuntos, foram adquirindo aspectos para a prática composicional como esquemas de contraponto validados em funções expressivas nos projetos representacionais das composições. Por fim, Diósnio Machado Neto e Cesar Villavincenzo discutirão aspectos das propriedades retóricas entre os séculos XVI e XVIII, e como isso pode ser inserido nos problemas dos estudos da música na América Portuguesa.

Abraços e até a próxima coluna!


Fernando Tavares é pesquisador, professor e contrabaixista. Contribuiu com diversas publicações para revistas especializadas em contrabaixo e hoje é membro do LAMUS (Laboratório de Musicologia da EACH-USP Leste), do CEMUPE (Centro de Musicologia de Penedo) e do LEDEP (Laboratório de Educação e Desenvolvimento Psicológico da EACH-USP Leste).
É Mestre e Doutorando em Musicologia pela ECA-USP e é bolsista da CAPES.
"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
"This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Transcrição do Mês - Primus - Jerry Was a Race Car Drive


Olá, pessoal!

Estamos de volta nesta semana para mais uma transcrição com texto em nosso site. Desta vez, apresento uma transcrição da música Jerry Was a Race Car Driver, da banda Primus, com o excepcional Les Claypool no contrabaixo.

Claypool é um dos músicos mais renomados do cenário atual, dispensando qualquer tipo de apresentação. Com uma carreira impecável tanto no Primus quanto nas inúmeras bandas das quais foi integrante ou colaborador, além de sua carreira solo, ele exibe uma impressionante versatilidade técnica. Entre as diversas técnicas que domina, estão o slap, abafados, two hands, strumming e improvisações com escalas exóticas e simétricas, todas aplicadas com maestria. A música Jerry Was a Race Car Driver é uma excelente demonstração de seu talento.

Este artigo faz parte da minha coleção, que inclui diversos estudos sobre contrabaixo, teoria e análise musical.

Para conferir alguns dos trabalhos e artigos que publiquei, acessem o link:
www.femtavares.com.br/p/midiaimpressa-fernandotavares-sempre.html

Para mais informações, entrem em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Link para a transcrição:
Primus - Jerry Was a Race Car Driver

Biografia do Primus:

Primus é uma banda americana formada em 1984, liderada pelo baixista Les Claypool. Conhecida por seu estilo único, que mistura rock alternativo, funk, e uma grande variedade de influências experimentais, a banda se destaca pelo uso inovador do contrabaixo e pelas composições excêntricas. Claypool, o principal compositor, é a alma do grupo, criando linhas de baixo complexas e muitas vezes fora do padrão, o que fez com que Primus se tornasse uma referência no cenário musical alternativo.


Na introdução da música, o baixista utiliza a técnica Two Hands. Com a mão direita, ele executa trítonos (C/Gb e D/Ab), enquanto a mão esquerda toca uma frase utilizando a escala de Ab maior. Este trecho é repetido ao longo da base de voz, com pequenas variações feitas por Claypool para gerar efeitos interessantes.

No refrão da música, o baixista mantém a mesma ideia, ainda utilizando Two Hands, mas com uma leve variação na frase, mantendo os mesmos elementos da introdução. É possível perceber um slide no último tempo do compasso.

No interlúdio, a técnica usada é o Slap. Vale destacar que a frase executada na corda Mi tem a mesma estrutura da frase tocada na mão esquerda nos exemplos anteriores, porém executada meio tom abaixo. A frase é finalizada com um strumming com intervalos de quarta.

A forma da canção é a seguinte:

  • Introdução: até o compasso 10
  • Base de voz: do compasso 11 ao 18
  • Refrão: do compasso 19 ao 27
  • Interlúdio: do compasso 28 ao 36
  • Base do solo (igual à base de voz): do compasso 37 ao 42
  • Refrão: do compasso 43 ao 50
  • Base de voz: do compasso 51 ao 54
  • Interlúdio: do compasso 55 até o final da canção

Embora esta canção tenha apenas três partes, elas são extremamente elaboradas e de difícil execução. O estudante precisará de bastante prática e domínio das técnicas de Slap, Two Hands e Strumming para tocar essa música corretamente.

Estude com calma, utilize o metrônomo e depois trabalhe para capturar o swing característico de Les Claypool.

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Redes sociais:
Facebook: https://www.facebook.com/femtavares
Instagram: https://www.instagram.com/femtavaresbaixo

Bons estudos e até a próxima coluna!

Fernando Tavares utiliza cordas Giannini e cabos Datalink.